ATA DA DÉCIMA QUARTA SESSÃO
SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA,
EM 05-8-2003.
Aos
cinco dias do mês de agosto de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio
Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove
horas e seis minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente
declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título
Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Jaques Bacaltchuk, nos termos
do Projeto de Lei do Legislativo n° 188/02 (Processo nº 2940/02), de autoria do
Vereador José Fortunati. Compuseram a Mesa: o Vereador Elói Guimarães, 1º
Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidindo os trabalhos; o
Senhor José Fortunati, Secretário Estadual da Educação; o Deputado Paulo
Azeredo, representante da Assembléia Legislativa do Estado; o Senhor Wilson
Martins, representante do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor
José Sperb Sanseverino, Provedor da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de
Porto Alegre; o Senhor Olimpio Dalmagro, Diretor-Geral e Administrativo da
Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre; o Capitão-Tenente Vanderlei Souza
dos Santos, representante da Delegacia da Capitania dos Portos de Porto Alegre;
o Tenente Fernando Anschau, representante do 5° Comando Aéreo Regional - 5º
COMAR; o Senhor Jaques Bacaltchuk, Homenageado; a Senhora Sandra Litvin, esposa
do Homenageado; o Vereador Dr. Goulart, proponente da presente homenagem e, na
ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos
para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, em prosseguimento, concedeu
a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Dr. Goulart,
como proponente da Sessão e em nome das Bancadas do PTB, PT, PC do B, PSB e
PPS, declarando seu orgulho por integrar a homenagem hoje prestada pela Casa,
discorreu sobre a atuação do Senhor Jaques Bacaltchuk como médico em busca da
valorização da vida e da dignidade humana, relatando a participação do
Homenageado na recuperação do Complexo Hospitalar Santa Casa de Misericórdia. O
Vereador Isaac Ainhorn, em nome da Bancada do PDT, falou sobre a comunidade
israelita na cidade de Erechim, terra natal do Homenageado, e, lembrando o
transcurso do centenário de nascimento de Dom Vicente Scherer, ressaltou o
trabalho realizado na área da saúde pelos dirigentes do Complexo Hospitalar
Santa Casa de Misericórdia, entre eles o Senhor Jaques Bacaltchuk. Ainda,
classificou como dramática a situação da saúde pública no Brasil. O Vereador
Pedro Américo Leal, em nome da Bancada do PP, discorreu sobre o caminho
percorrido pelo Senhor Jaques Bacaltchuk como médico, professor e dirigente
hospitalar, comentando o atendimento à população oferecido pelo Complexo
Hospitalar Santa Casa de Misericórdia e analisando a mentalidade idealista e
renovadora exigida daqueles que dedicam sua vida a amenizar o sofrimento
humano. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, afirmou que a
Irmandade Santa Casa de Misericórdia é motivo de orgulho para a Cidade,
salientando que mais de setenta por cento do atendimento ali oferecido atinge a
comunidade carente, através do Sistema Único de Saúde. Ainda, atentou para o
reconhecimento da sociedade porto-alegrense representado pelo Título hoje
entregue pela Casa. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra
ao Senhor José Fortunati, que registrou sua alegria por retornar a este
Legislativo, neste momento em que é homenageado o Senhor Jaques Bacaltchuk,
expondo os motivos que o levaram a encaminhar o Projeto de Lei para outorga do
Título Honorífico hoje entregue. A seguir, o Senhor Presidente convidou o
Vereador Dr. Goulart e o Senhor José Fortunati a procederem à entrega da
Medalha e do Diploma referentes ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre
ao Senhor Jaques Bacaltchuk, concedendo a palavra ao Homenageado, que agradeceu
o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé,
ouvirem à execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar,
agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às vinte horas
e vinte e quatro minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão
Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo
Vereador Elói Guimarães e secretariados pelo Vereador Dr. Goulart, como
Secretário “ad hoc”. Do que eu, Dr. Goulart, Secretário “ad hoc”, determinei fosse
lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada
pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.
O
SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Estão abertos os
trabalhos da presente Sessão Solene, destinada à outorga do Título Honorífico
de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Jaques Bacaltchuk, proposta pelo Ver. José
Fortunati e por iniciativa do Ver. Dr. Goulart.
Compõem a Mesa o Dep.
Paulo Azeredo, que representa, neste ato, a Presidência da Assembléia
Legislativa; o Exmo. Sr. José Fortunati, Secretário de Educação do Estado; o
eminente homenageado, Dr. Jaques Bacaltchuk; a Sra. Sandra Litvin, sua esposa;
o Sr. Wilson Martins, representante do Prefeito Municipal de Porto Alegre; o
Prof. José Sperb Sanseverino, Provedor da Irmandade da Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre, meu professor na faculdade de Direito; o Sr.
Olimpio Dalmagro, Diretor-Geral e Administrativo da Santa Casa de Misericórdia
de Porto Alegre; o Capitão-Tenente Vanderlei Souza dos Santos representante da
Delegacia Capitania dos Portos de Porto Alegre; o Tenente Fernando Anschau,
representante do 5.º Comando Aéreo Regional.
Ver. Dr. Goulart, que propõe a presente
solenidade, Vereadores Cláudio Sebenelo, Isaac Ainhorn, Pedro Américo Leal,
demais aqui presentes, sintam-se todos aqui nomeados.
Convidamos todos os presentes para, em
pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(Ouve-se o Hino Nacional.)
O Ver. Dr. Goulart está com a palavra
como proponente da homenagem.
O
SR. DR. GOULART: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Meu prezado e
ilustre colega Dr. Jaques Bacaltchuk, é com muita satisfação e orgulho que
venho homenagear um médico, um grande médico, neste Parlamento histórico, que
ao longo dos tempos tanto tem defendido a democracia em seus estreitos mais
radicais e tanto tem apontado os destaques desta vida e os caminhos do
humanismo.
E, hoje, estamos aqui, neste encontro
solene, para falarmos do senhor, Dr. Jaques Bacaltchuk, em proposição apontada
por outro grande cidadão, o Vereador mais votado na existência desta Câmara Municipal,
o nosso Secretário de Educação, o querido amigo e líder modelar José Fortunati
- dali nos contemplam 40 mil votos; dali renasce o nosso compromisso
trabalhista e regimental com a educação, movimento que é novo, mas que é velho,
pois há mais de quatro decênios o nosso Partido, pelo senso de soberania de
Leonel Brizola, espalha escolas pelo mapa do Rio Grande do Sul. Em cada canto
desta terra havia, e há, um coleginho de madeira, onde a querida professora
começa a instruir seus alunos, e muitos, hoje são homens e mulheres que dirigem
os caminhos das cidades, do Estado e do Brasil. E, agora, o Secretário
Fortunati abre a escola aos finais de semana para sua comunidade, fazendo dela
a extensão da casa dos cidadãos. O Secretário Fortunati retoma a Escola de
Tempo Integral, grande senda de ensino, cultura e acolhimento, que pode educar
de maneira mais completa e, verdadeiramente, tirar as crianças das ruas.
Mas o maior homenageado é o Dr. Jaques,
médico inteligente, professor de Medicina, Diretor-Médico de vários hospitais
que compõem o complexo Santa Casa de Misericórdia.
O nosso herói faz parte daquele grupo de
homens que, incentivados pelo Provedor Dom Vicente Scherer, abraçaram a
bicentenária instituição no seu pior momento, quando as crises econômicas e o
abandono administrativo apontavam para o desacreditamento. Definhava aquela
que, quando ainda não viera à luz a Constituição de 1988, atendia aos que não
tinham carteirinha, atendia aos nossos pobres, atendia aos indigentes.
Mas, emergindo da precariedade, aqueles
homens determinados levaram a Santa Casa, novamente, à sua condição de
liderança, modernidade, de excelência no atendimento dos seus doentes, na
formação de grandes profissionais e na beleza arquitetônica das suas paredes
reinventadas ou revividas.
O Dr. Jaques Bacaltchuk
estava ali.
O Pavilhão Pereira Filho,
com a equipe quase mítica do Dr. Camargo. O novo Hospital Santa Rita, de Neiro
Motha, que reequipou e aumentou a sua capacidade em 60% e, hoje, é um dos três
maiores centros do Brasil, na prevenção, diagnóstico e tratamento de todos os
cânceres. Mas os Governos cortaram 6,5% das suas cotas da bendita radioterapia.
O Hospital Dom Vicente
Scherer, primeiro da Latino-América programado para realizar qualquer tipo de
transplante, garante ao Estado do Rio Grande do Sul a liderança nacional no
atendimento, ensino e pesquisa dessa difícil especialidade.
O Hospital da Criança Santo Antônio,
reinaugurado dentro do complexo, privilegia a centralidade, aumenta a sua
oferta em 50%, atende a todas as subespecialidades pediátricas e está bem mais
perto das grandes especialidades da Medicina, mas a imprensa anuncia que o
planejamento dos gestores governamentais não conseguem evitar a sua indesejável
superlotação, e, por vezes, forçam o fechamento da sua preciosa emergência
pediátrica, que tanto resolve as tosses e as febres, quando a noite vem.
O Dr. Jaques Bacaltchuk está ali.
A Santa Casa com seus 1.260 leitos, 1.360
médicos e mais de 5 mil funcionários atende já 70% dos seus serviços pelo SUS,
mas os cortes de verbas e os serviços não-pagos pelo gestor, bem como a falta
de pagamento da assistência estadual diminuiram o SUS para 68% e fecharam 10%
dos leitos do hospital, e logo nesta época, de tantas dificuldades no
encaminhamento da Saúde. Cento e vinte leitos fechados, é um hospital fechado.
Na resistência, lá está o Dr. Jaques
Bacaltchuk, seu belo trabalho e sua preocupação social.
Como me enche de honra termos coisas em
comum, professor Jaques. O senhor é do Conselho Israelita do Lar dos Velhos, e
eu tive aprovado aqui, neste Parlamento, nesta Casa querida, o cartão do SUS
que privilegia o atendimento dos nossos velhos.
O senhor é do Conselho do Colégio
Israelita, e eu me alfabetizei no Colégio Israelita, pelas mãos e pelo ensino
da professora exemplar, Dona Marion Ciulla Porciúncula.
O senhor fez residência em Medicina
Interna no Grupo Hospitalar Conceição e, hoje, eu ajudo a formar residentes no
Hospital Fêmina, do Grupo Hospitalar Conceição.
O senhor dirige a Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre, e eu fiz minha primeira cirurgia de residência,
na Enfermaria 22, e o meu primeiro parto na Maternidade Mário Totta.
O senhor formou-se na Universidade
Católica de Pelotas, e meu filho Pablo, agora, inicia sua Medicina na
Universidade Católica de Pelotas. Aqui ficam os nossos cumprimentos querido
Médico Jaques Bacaltchuk, aos seus pares, na pessoa do professor José
Sanseverino e de Olimpio Dalmagro.
Também fica o nosso agradecimento ao
grande trabalho do corpo funcional dos seus hospitais, sem o que, não teríamos
o Complexo de Saúde Santa Casa.
Meus cumprimentos também a sua família, e
quem agradece, Dr. Jaques Bacaltchuk, agora Cidadão que se diplomará, por meio
desta Câmara, verdadeiramente, é a cidade de Porto Alegre. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): O Ver. Dr. Goulart
falou pelas Bancadas do PTB, PT, PCdoB, PSB e PPS.
O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra
em nome do PDT.
O
SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Vali-me, Sr.
Presidente, meus colegas Vereadores, minhas senhoras e senhores, de um
expediente regimental para que dois Vereadores da mesma Bancada pudessem fazer
uso da palavra nesta tarde e noite na cidade de Porto Alegre.
O Ver. Dr. Goulart, do meu Partido, falou
como autor da iniciativa, em parceria com o Ver. José Fortunati, e eu falo em
nome da minha Bancada, porque é óbvio que em uma homenagem ao amigo, ao médico
Jaques Bacaltchuk, necessariamente, eu gostaria de me expressar nesta Sessão
Solene desta Casa, e busquei juntamente com o Ver. Dr. Goulart, uma forma
regimental que não afrontasse o Regimento e que pudesse aqui fazer uma
manifestação em meu nome, em nome do Ver. João Bosco, do Ver. Nereu D’Avila e
do Ver. Ervino Besson.
Há vinte dias, Dr. Jaques Bacaltchuk,
estive em sua terra natal - não tinha ainda me inscrito para falar nesta
oportunidade desta Sessão Solene - hoje a emancipada Quatro Irmãos. Estive lá,
estive ao lado, em Erebango, visitei
a Prefeitura Municipal e a Câmara Municipal de Quatro Irmãos, Dr. Sanseverino,
que se acha, por coincidência e por circunstâncias que não conseguimos
explicar, mas, tendo como coroar uma homenagem ao Dr. Jaques Bacaltchuk, pois,
onde funciona a Prefeitura Municipal de Quatro Irmãos e a Câmara Municipal, foi
o hospital erguido pela comunidade judaica, quando veio nas levas de
imigrantes, que chegaram em Erebango, Quatro Irmãos, colônias de Erechim, que
não era Erechim, era Paiol Grande.
Veja, meu caro Prefeito Villela, a
profunda coincidência, porque há cerca de dois meses nós homenageávamos - e
aqui estava presente o Dr. Sanseverino -, lembrávamos e evocávamos o centenário
de nascimento de D. Vicente Scherer. Hoje nós estamos homenageando o Dr. Jaques
Bacaltchuk, Cidadão de Porto Alegre, ele, oriundo da pequena Quatro Irmãos. Lá,
eu vi o hospital, onde hoje funcionam a Câmara e a Prefeitura, que é um prédio
de madeira. Amanhã, em audiência com o Sr. Governador do Estado do Rio Grande
do Sul, Germano Rigotto, nós estaremos entregando a solicitação de tombar
aquele prédio, onde funcionou o primeiro hospital de Quatro Irmãos, da cidade
natal do homenageado. Hoje estamos aqui homenageando justamente o
diretor-médico da maior instituição hospitalar do nosso Estado: a bicentenária
Santa Casa de Misericórdia, onde ele tem a grande responsabilidade, juntamente
com esse grupo de abnegados, de homens preparados, de responder ao desafio de
trabalhar e de dar respostas às questões da saúde - a mais dramática questão
que vive hoje o Estado brasileiro - na maior instituição hospitalar, com as
alegrias e frustrações que certamente devem acompanhá-lo no dia-a-dia da sua
ação; sua, de seus colegas, dos médicos que aqui estão presentes, dos mais de
mil médicos daquela instituição e dos milhares de médicos do nosso Estado. Por
tudo isso é que fazemos estes paralelos, estas reflexões. Seus pais - o Sr.
Jaime e a D. Esther Bacaltchuk -, que estão ali, honrados, passaram por
Erechim, depois por Passo Fundo. E depois que nós saímos de Erechim, Quatro
Irmãos, nós passamos de ônibus pelo Boqueirão, o velho Boqueirão. Nós
lembrávamos de tudo isso. Que beleza!
Hoje esta Casa outorga, honrada, por Lei
Municipal, o Título de Cidadão de Porto Alegre, que apenas é um reconhecimento e
uma concretização jurídica de uma situação fática preexistente, que são os seus
extraordinários trabalhos ao longo desses 30 anos na cidade de Porto Alegre.
Nós, representação política da cidade de Porto Alegre, nos sentimos honrados,
nesta tarde/noite, ao outorgar-lhe o Título de Cidadão de Porto Alegre.
Parabéns! É um orgulho para a Cidade! Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): O Ver. Pedro Américo
Leal está com a palavra. Falará em nome da Bancada do PP.
O
SR. PEDRO AMÉRICO LEAL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) A trilha percorrida por Jaques
Bacaltchuk em sua formação educativa, da infância à adolescência, pelo que li,
galgando degraus do seu próprio preparo intelectual, foi realizada lá pelas
bandas de Passo Fundo, na região a que Isaac se referiu. Deduzo e concluo ter
ele esbarrado ou sido influenciado – ele, o nosso homenageado – pelo notável
judeu e meu amigo pessoal em vida Maurício Sirotsky. Hão de dizer que busco
sempre uma referência e me volto a Passo Fundo, na existência do Diário da
Manhã - a quem fiz a rádio, se não me engano, do Diário da Manhã vir ao ar - de
Túlio Fontoura, Diógenes Martins e do velho Maurício. Não posso evitar! Sou assim,
o que vou fazer?
Jaques Bacaltchuk, médico, professor,
dirigente hospitalar, como outros intelectuais, não se conformou em ter como
companheira de vida apenas a ciência; peregrinou por aí em estradas e esquinas
da vida, buscando substituir as tristes veredas do acabar humano para compensar
em capítulos culturais os insucessos de existências perdidas ao longo da
estrada da vida que ele escolheu: ser médico. O que vai fazer? É do jogo. Esses
homens e mulheres sob seus cuidados se vão – o que fazer? É o resultado
favorável de esperanças que não se concretizaram, diagnósticos frustrados,
madrugadas esperando o desfecho incerto numa UTI, constante luta de romper
limites, lutar contra o impossível, o insuperável: a morte iminente.
E foi buscar entretenimento, para
disfarçar, distrair, iludir-se das duras verdades do seu sacerdócio: a
Medicina, com a arte. É um derivativo. Foi pesquisar, estudar sua gente, o povo
judeu, valores, tradições, na sua estirpe, escondendo a realidade da profissão
escolhida, do contato diário com a morte, assim como faz o Dr. Ivo Nesrala, lá
na OSPA; o Dr. Luchese, nos seus livros das Pílulas de Conservação da Saúde,
verdadeiros embromadores das suas frustrações. É disso que eu vos acuso:
embromadores de suas frustrações!
É uma fuga, sim, é uma fuga. Um
derivativo, uma compensação - sou psicólogo, o que vou fazer? -, seja lá o que
for, sobretudo uma racionalização de todas as frustrações, constatações de
médicos, diante do inexorável compromisso que nunca pode assumir: prolongar a
vida ao infinito.
Duvido que faça, na linha de combate,
dormindo com o inimigo, na zona brumosa do tal túnel da vida, que dizem que
existe, buscando sobrepujar por minutos, horas, dias, prolongar uma partida.
Até quando? Só Deus sabe...
Pesquisas, estudos sobre a imigração
judaica no Rio Grande do Sul, integração da comunidade na etnia do nosso Estado
foram os assuntos que o enamoraram lá no Lar dos Velhos da Sociedade Israelita.
Eu não vi, mas soube quem fez isso.
Menos como médico, mas mais como ser
humano, na contra-encosta da vida, há de ter umedecido os olhos, como fazem
todos os médicos, nas despedidas mudas do moribundo que se vai na cama do
hospital, do seu paciente, sem querer perceber, fingindo que não vê ou que não
dá valor, não valor material, mas valor psicológico, o derradeiro olhar, a
frase final, resumindo a emoção do agradecimento, mudo: “Obrigado, estiveste ao
meu lado”; em lugar do: “Obrigado, Doutor”.
Foi assim que a música, o Instituto
Cultural Judaico Marc Chagall, o Theatro São Pedro, a Orquestra Sinfônica de
Porto Alegre, o Instituto Goethe e o Cultural lhe tocaram a alma e lhe
empolgaram o espírito, como a tantos colegas de profissão.
Vocês, médicos, sabem do que eu estou
falando. Homens e mulheres passam; o aroma da cultura judaica permanece. Urge
amenizar a batalha da vida. Como é finita a consciência dos sentidos! Sentido
da vida, essa é a grande busca! Já houve até um grande pensador que dedicou
tese a esse estudo.
Ontem, estive com o Dr. Olimpio Dalmagro
– V.S.ª se lembra? – Diretor Administrativo de seu complô. Não é complexo, é
complô.
Fizemos um programa de TV juntos. Falamos
no Dom Vicente Scherer, do hospital que leva o seu nome, do ambicioso plano de
Dom Vicente Scherer, o primeiro hospital da América Latina na realização de
transplantes. Do Santa Rita, sua constante luta contra o câncer; do Hospital da
Criança Santo Antônio; da Santa Casa de Porto Alegre; dos sete hospitais; dos
mil leitos; dos mais de mil médicos, lembra? E V. S.ª falou dos 5 mil
profissionais - muito mais - que permanecem em vigília nas madrugadas de Porto
Alegre, são os boêmios da Saúde, de cinto de guarnição, prontos para o serviço!
A quem aparecer no
Complexo, 70% dos serviços são prestados ao SUS, ao povo pobre. Pouca gente
sabe disso, eu mesmo não sabia. E à testa do conjunto, o Diretor-Médico, hoje,
nosso homenageado.
Aspas. Destaco um trecho para terminar.
(Lê): “E à frente de um dos mais modernos hospitais do Brasil, a Santa Casa, de
origem pelos idos de 1803, ávido de novos conhecimentos psicológicos e científicos
na ciência de levar a saúde e a qualidade de vida aos pacientes de todas as
classes sociais: do recém-nascido ao idoso, sempre tentando salvar vidas.” Está
entre aspas, mas eu resumi o pensamento dele, do nosso homenageado. As palavras
são suas, não são minhas, Dr. Jaques Bacaltchuk, nosso homenageado.
Faça muito bom proveito da homenagem que
está recebendo, que esta Câmara resolveu lhe dar. Saiba V. Exa. que esta Câmara
não resolve as coisas de repente: quando ela decide alguma coisa, todos os Partidos
se pronunciam, e V. Exa. teve unanimidade. Parabéns! (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Registramos a presença
do Ver. João Bosco Vaz.
O Ver. Cláudio Sebenelo está com a
palavra pelo PSDB.
O
SR. CLÁUDIO SEBENELO: Como nos sentimos bem com tantas pessoas
queridas que fazem parte do nosso panorama afetivo em volta de um querido
amigo, como o Ver. Elói Guimarães, Presidente dos trabalhos da Câmara Municipal
de Porto Alegre, pessoa com quem eu tenho tanto aprendido; como o Exmo. Sr.
Secretário de Educação do Estado, Vereador, colega nosso, aqui, José Fortunati,
que vai ficar marcado “à paleta” por ter aberto as escolas a toda a população,
inclusive aos sábados e domingos; como o meu amigo e representante do Prefeito
Municipal, Dr. Wilson Martins; a Sra. Sandra Litvin, esposa do Jaques; essa
grande figura da cidade de Porto Alegre, que é o Provedor da Irmandade da Santa
Casa de Misericórdia, Dr. José Sperb Sanseverino, não só no Direito como,
agora, na área da Saúde; o Sr. Diretor-Geral Administrativo da Santa Casa de
Misericórdia de Porto Alegre, Dr. Olimpio Dalmagro; o Capitão-Tenente Vanderlei
de Souza dos Santos e o Tenente Fernando Anschau, representando o V Comando
Aéreo Regional. Eu queria registrar, também, com muito orgulho, a presença do
Dep. Paulo Azeredo, que faz um trabalho brilhante também na área da saúde com
seu Zero Acidente, e que é para nós uma grande proposta frente a alguma coisa
em que todas as metodologias falharam no intuito de resolver esse genocídio
causado pela idade do automóvel.
Não é só pela beleza geográfica, pela
importância geopolítica, pelo seu povo fidalgo e generoso que a Capital dos
gaúchos é conhecida no mundo inteiro. Desfrutamos, no momento, de uma invejável
posição em uma área acadêmica que nos confere excelência e vanguarda, Dr.
Guido, quando nos damos conta de que a Medicina que praticamos pode ser
considerada uma das melhores em algumas especialidades, além do pioneirismo, a
ponta máxima em tecnologia.
É produto de um talento que planeja, que
treina, que executa e integra a sociedade, não é só uma assistência médica
irretocável, mas a certeza da qualidade e da maneira com que os serviços são
oferecidos e usufruídos por uma população inteira.
Mas tudo aquilo que era fácil, um dia foi
difícil. A competência transformou o complexo em simples. O confuso das visões
foram-se clareando, e, de uma estrutura antiga, mesmo que seus corredores nos
contem histórias gloriosas de vitórias médicas, o vencer das inércias iniciais
foi difícil e exigente.
Aos poucos, foi-se insinuando um conjunto
hospitalar com inúmeras figuras, desde Sanseverino, Vicente Scherer, Polanczyc,
Dalmagro. Estamos, evidentemente, falando de um dos maiores orgulhos da nossa
Cidade, da nossa Porto Alegre: a Santa Casa de Misericórdia e o novo panorama
que confere ao Centro, desde aqueles nomes até toda a direção atual.
Ali voa sozinho um grande jumbo com
formato hospitalar, transportando pesquisa, ciência, ensino médico, esperança e
misericórdia, e, junto, seus grandes pilotos, e de um deles, do Jaques
Bacaltchuk, eu me lembro muito bem, como residente do Hospital Conceição - com
o cachimbo inconfundível -; depois, como orientador e médico na Residência e
criador da Residência, de extraordinário trabalho e de inequívoca vocação para
o exercício dessa arte médica, que seleciona pelo talento, pelo brilho, pela
grandeza de alma, enfim, pela fé na espécie hominis.
Um dia, eu já era Superintendente do
Grupo Hospitalar Conceição, e o já professor, Dr. Jaques Bacaltchuk, solicitou
licença porque tinha a mais decidida expectativa e iniciativa de mudança.
Iria-se dedicar à administração de uma nova proposta hospitalar. A tristeza da
perda do nosso expoente, aos poucos, foi sendo substituída pela feliz notícia
do seu invulgar sucesso na empreitada, integrando uma equipe extraordinária,
cujos edifícios são apenas a materialização dos conceitos de excelência.
E a Cidade passou a te reconhecer
maciçamente, Jaques, porque as cidades gostam das suas figuras; oferecem-nos
suas esquinas, seus pontos de reunião, suas instituições. E na história dos
hospitais, na sociologia dos hospitais, antes tão distantes, como o Belém, o
Itapuã, a inconformidade da sociedade, com as suas impotências em resolver seus
problemas, os colocavam bem longe; não queríamos ver os leprosos, os
tuberculosos, como ocorreu na Santa Casa, que foi excluída do núcleo do plano
urbano inicial, para fora da Praça do Portão, pois era centro de contágio e de
dor, centro de isolamento e de sofrer.
Aos poucos, o crescimento urbano mudou
essa sociologia dos hospitais. Por fim, o hospital, que era banido, longínquo,
passava a ser aceito, abraçado pela Metrópole. A dor, que era aceita como
penitência, passa a ser banida dentro dos hospitais com a maior de todas as
eficiências.
Pois a felicidade social também é feita
pelos médicos e pela Medicina. E a Saúde é, talvez, a via mais preciosa de
desconcentração da renda nacional. Por isso, quando mais de 70% do atendimento
da Santa Casa em todos os seus hospitais – e eu faço questão de repetir o que
todos disseram aqui pelas injustiças insinuadas - são em atenção a um Sistema
Único de Saúde brasileiro, o que sobra dessa cifra oferece-se a uma clientela
de convênios e pacientes particulares, passando a se ter a consciência de sua
importância como uma grande empresa, com um fantástico número de empregados,
cuja importância social não pode ser calculada na moeda corrente. As questões
econômicas são fundamentais na avaliação dos empreendimentos dessa natureza,
mas a melhora das relações sociais, através da humanização do atendimento, não
tem qualquer outro parâmetro que não seja o da magnanimidade do exercício
médico.
Entendemos utopia não como uma realidade
inatingível, mas como a distância entre aquilo que temos e somos e o ideal.
Essa diferença é o nosso senso crítico. O ideal já foi por ti e por uma imensa
equipe construído. Se compararmos com a situação de nosso Município, com
emergências abarrotadas, com consultas marcadas para os próximos seis meses a
dois anos e sofrível atendimento primário, somos críticos entre o próximo ao
ideal da Santa Casa e a fantasmagórica distância entre ela e a política de
saúde oferecida a nossa população mais carente. Precisamos mudar e mudar muito.
Esta é sua obra, hoje
reconhecida por uma cidade que te adotou e que te abraça, como reconhecimento,
como homenagem, mas como crença nas novas gerações, que terão em teu exemplo o
modelo de uma nova sociedade que queremos plasmar.
Peço, por fim, quando andares pelas suas
ruas, que percebas um certo encanto, uma certa brisa, um certo gosto de chão,
de raiz, que aos poucos implantaste, e essas sensações estarão muito próximas
de um afago, doce e interminável, porque as cidades têm sensibilidade, têm alma
e coração para trocar com os seus vultos. E o mais lindo de todos os amores é a
terra, é a sua gente abraçando um grande homem visceralmente médico. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): O Ver. Dr. Goulart,
proponente desta Sessão, solicita ao proponente do Título, Ver. José Fortunati,
Secretário Estadual de Educação, que faça o uso da palavra.
O Ver. José Fortunati, Secretário
Estadual de Educação, está com a palavra.
O
SR. JOSÉ FORTUNATI: Meu caro Ver. Elói Guimarães, Presidente
dos trabalhos, quero dizer da minha enorme satisfação em retornar a esta Casa
após sete meses. Eu saí daqui no dia 31 de dezembro do ano passado, ocupando a
Presidência da Câmara Municipal de Vereadores, e retorno, no dia de hoje, numa
data muito especial. Eu não havia tido a oportunidade, nesses sete meses de
trabalho junto ao Executivo Estadual, de retornar a esta Casa - a cujos quadros
continuo pertencendo.
Quero, em primeiro lugar, dizer da minha
enorme alegria e satisfação em voltar a esta tribuna. Eu quero cumprimentar o
meu caro amigo, Deputado Paulo Azeredo, que representa, neste ato, a Assembléia
Legislativa e que tem feito um trabalho exemplar entre os nossos Legisladores
estaduais.
Meu caro amigo homenageado Jaques
Bacaltchuk, é uma grande alegria te rever. Não tenho dúvidas de que esta Casa e
esta Cidade sentem-se honradas em te fazer esta homenagem. (Saúda os
componentes da Mesa e demais presentes.) Quero cumprimentar o Ver. Dr. Goulart
que nos deu a honra de tomar essa iniciativa, e, por isso, meu caro Jaques,
esta Sessão está sendo realizada.
O Regimento da Casa é bastante
contundente: se nenhum dos Vereadores da atual Legislatura tomasse a
iniciativa, eu, proponente desta justa homenagem que a Cidade te faz,
infelizmente acabaria não tendo as condições de poder, num ato solene como
este, fazer esta justa homenagem. Então, quero, em meu nome, e certamente em
nome do Jaques, te cumprimentar, Ver. Dr. Goulart, porque certamente estás
fazendo feliz toda essa comunidade que aqui vem, nesta noite chuvosa, prestar
esta honra ao nosso amigo Jaques.
Quero cumprimentar nossos amigos
Vereadores e a todos que nos dão a satisfação e a honra de suas presenças.
Quando pensamos – e pensamos de uma forma
coletiva – numa homenagem ao Jaques, eu cheguei a ficar em dúvida, e certamente
essa dúvida não estava presa a qualquer dificuldade em observar todos os
méritos aqui já perfilados pelos Vereadores que me antecederam sobre o trabalho
do nosso homenageado. A dúvida vinha da minha amizade pessoal com o Jaques.
Quem trabalha na vida pública normalmente tem dificuldades em fazer homenagens
a seus próprios amigos, mas entendi que, mais do que uma homenagem, eu estaria
fazendo algo em nome da Cidade de Porto Alegre e certamente do Estado do Rio
Grande do Sul, uma justa homenagem a esse grande médico e ser humano que é o
Dr. Jaques Bacaltchuk. Então, deixando de lado pruridos, até esqueci da nossa
amizade e, postando-me como Vereador que sou desta Cidade, decidi homenagear
alguém com toda a tranqüilidade, com toda a lisura, alguém que a Cidade
aprendeu a admirar e a amar. Por isso, Jaques, aqui estamos. E numa feliz
coincidência, porque hoje me encontro coordenando a área da Educação no Estado,
e tu representas também a Santa Casa de Misericórdia que, indiscutivelmente, é
uma das grandes instituições formadoras e capacitadoras de profissionais na
área da Saúde. Lá também, meu caro mestre Sanseverino, se faz a educação, e
essa é uma feliz coincidência que eu gostaria de resgatar.
Também não podemos nos esquecer da
relação do Jaques com a Fundação Marc Chagall, porque lá também se aplica
cultura e se faz educação. Então, também por uma feliz coincidência que trago
neste momento, de forma bastante rápida, digo que aproximadamente há um ano, já
passados doze meses, tomei a iniciativa, aprovada essa iniciativa pela
unanimidade de todos os Vereadores e Partidos desta Casa. Eu não tenho qualquer
dúvida em afirmar de que, passado esse período, hoje eu tenho razões maiores
para estar nesta tribuna e dizer que a Câmara Municipal de Porto Alegre e a
Cidade de Porto Alegre fazem uma justíssima homenagem a alguém que, juntamente
com tantos outros, tem lutado para construir uma sociedade mais digna, fraterna
e principalmente humanitária. Que as luzes do universo continuem orientando a
tua vida e a tua existência. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Os romanos diziam forma dat esse rei. Eram formalidades,
solenidades, e que neste momento representam o ponto alto desta Sessão e desta
solenidade. Convidamos o Ver. Dr. Goulart e o Secretário de Educação Ver. José
Fortunati a procederem à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto
Alegre ao Dr. Jaques Bacaltchuk.
(Procede-se à entrega do Título.)
(Palmas.)
O mais novo Cidadão de Porto Alegre, Dr.
Jaques Bacaltchuk, está com a palavra.
O
SR. JAQUES BACALTCHUK: Sr. Presidente, Sras. Vereadoras e Srs.
Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Prezados amigos
e colegas. Esta solenidade e esta noite muito me honram. A outorga do Título
Honorífico de Cidadão de Porto Alegre a mim conferido pela Câmara Municipal
desta Cidade transforma para sempre o dia 5 de agosto de 2003 em um dos mais
importantes e mais felizes de minha vida. Não consigo imaginar nada que
ultrapasse ou mesmo se aproxime, em grandeza e generosidade do gesto de uma
Cidade que, por meio de sua representação popular máxima, esta egrégia Câmara
Municipal, conceda a um de seus filhos adotivos o Título de Cidadão. Objeto
desta honra, cabe-me agradecer aos que a tornaram possível. Em primeiro lugar,
agradeço a José Fortunati que, em setembro de 2002, então na qualidade de
Vereador desta Cidade, consultou-me se aceitaria a indicação de meu nome como
candidato ao Título de Cidadão de Porto Alegre. Caro Fortunati, não consigo
imaginar que exista alguém capaz de recusar tamanha honra.
Meus agradecimentos
incluem também meu colega de profissão, o médico e Vereador, Dr. Humberto
Goulart, a quem coube a iniciativa da outorga deste Título. A lista de
agradecimentos inclui o meu pai, Jaime Moisés Bacaltchuk e, muito
especialmente, minha mãe, ambos presentes. Ai de mim se eu não citasse a Dona
Esther, minha mãe! As senhoras e senhores não podem imaginar a bronca que
estaria comprando por muitos e muitos anos.
Agradeço ao meu pai e à minha mãe,
sobretudo pelo exemplo de vida que eles foram e continuam sendo. Com eles,
aprendi a respeitar a vida em todas as suas manifestações e a honrar a verdade
em todas as circunstâncias. Com eles, aprendi que a vida em comunidade
significa também um compromisso com o bem estar dos outros, com o bem estar de
todos. Certamente, essas lições essenciais de respeito à vida e à verdade e
essa noção congênita de nosso compromisso com a comunidade estão na matriz dos
caminhos que me levaram a escolher a Medicina como profissão.
A lista das pessoas que tornaram possível
minhas pequenas vitórias, minhas pequenas realizações, e que foram solidárias
em meus fracassos, tornando mais leve e mais suave o fardo das coisas e dos
sonhos que não consegui realizar, é suficientemente extensa para tornar
impossível citar a todos. Mas para que esses queridos amigos e companheiros de
jornada não se sintam excluídos na celebração desta noite tão importante para
mim, recorro a um truque citando Sandra, minha companheira, em todos os
momentos, enriquecedora. Muito obrigado Sandra, muito obrigado minhas filhas
Karen e Débora; eu me considerarei imensamente realizado como pai e como homem
se conseguir transmitir para Karen e para Débora as mesmas lições e o mesmo
exemplo de respeito à dignidade e à vida que aprendi com os meu pais.
Quando José Fortunati e o Dr. Humberto
Goulart propuseram a concessão deste Título de Cidadania, fiz um balanço de
minha vida para identificar nela as razões de tamanha honra. Sem qualquer
intenção de modéstia, e apenas no estrito respeito à verdade, reconheço que o
meu único mérito foi estar no lugar certo, no momento certo, na companhia das
pessoas certas.
É verdade que exerço a Medicina há 31
anos, mas aqui mesmo, neste plenário, há colegas que praticam esse ofício há
muito mais tempo e com mais mérito do que eu, e na Santa Casa, o número desses
colegas chega a centenas.
O mérito da concessão deste Título de
Honra está, portanto, nos projetos, nos sonhos, nas obras, nas realizações
voltadas ao humano e ao social das quais eu tive o privilégio de participar,
caso da minha participação como membro e, eventualmente, como Diretor e
Presidente de instituições criadas por descendentes da imigração judaica no Rio
Grande do Sul, voltadas ao amparo, ao ensino, ao exercício cultural e
integração dessa comunidade étnica em nosso Estado. Estou falando de
instituições como a sociedade Israelita Lar dos Velhos, da Federação Israelita
do Rio Grande do Sul, do Colégio Israelita Brasileiro, da Creche Anne Frank, do
Instituto Cultural Judaico Marc Chagall.
Há coisas erradas que merecem atenção. Há
pessoas que merecem ajuda, e nós temos responsabilidades com eles, com nossa
Cidade, Estado e País.
Eles refletem a imperfeição da justiça
humana, a inadequação de paixão humana, nossa falta de sensibilidade com o
sofrimento de nossos confrades, mas devemos lembrar, nem que seja por um
momento, que eles são nossos irmãos, que eles devem compartilhar conosco uma
vida melhor, que devem ser auxiliados a viver mais felizes, com mais
satisfação, com mais saúde e serem capazes de alcançar suas realizações.
O futuro não pertence àqueles que estão
satisfeitos com o presente, apáticos para com os problemas comuns e com o
próximo, tímidos e receosos em relação a novas idéias e projetos audaciosos. O
futuro pertence àqueles que podem unir a visão, a razão e a coragem em
compromissos pessoais com ideais e empreendimentos. Nosso próprio trabalho,
combinado com razões e princípios, determinará nosso destino. Por tais razões,
certamente, o grande mérito desta homenagem deve ser creditado à Santa Casa de
Porto Alegre e ao trabalho, em favor da comunidade, que ela tem permitido que
eu, na companhia dos meus mil quatrocentos e setenta e oito colegas médicos e
cinco mil duzentos e vinte colegas de outras profissões realizemos.
Integro, desde 1983, a Diretoria da
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia na qualidade de Diretor-Médico nos seis
hospitais da época, que então compunham os hoje sete do Complexo. Nessa
condição participei do renascimento da instituição, um processo comandado pelo
Cardeal Dom Vicente Scherer, então recém-eleito Provedor. No início da década
de 80 do século passado, a Santa Casa de Porto Alegre vivenciou o mais difícil
período de seus 199 anos de história. Dom Vicente Scherer herdou uma instituição
combalida, desmotivada, derrotada pelas sucessivas crises econômicas e
financeiras. Com o apoio dos seus tão jovens companheiros de direção, entre os
quais tive o privilégio de estar incluído, o Provedor rompeu com vícios
ancestrais, restaurou a ordem administrativa e redirecionou o foco da
Instituição a sua bicentenária missão de desenvolver e proporcionar assistência
médica e hospitalar da melhor qualidade para pessoas de todos os grupos sociais
da Cidade, do Estado e do País, amparada por programas de ensino e de pesquisa.
Nas últimas duas décadas, a Santa Casa,
emergindo de uma situação extremamente precária, resgatou a posição de
vanguarda que ocupou em muitos períodos ao longo de sua expressiva história, na
condição de liderança, competitividade, modernidade e excelência de serviços
que se tornou possível, através das definições de objetivos claramente
expressos, estabelecendo metas, considerando a visão de futuro, o planejamento
estratégico e respectivas diretrizes e planos operacionais, concebidos e implantados,
na época, pela equipe administrativa liderada, num primeiro momento, pelo
Provedor D. Vicente Scherer, e, desde dezembro de 1996, pelo Provedor José
Sperb Sanseverino, que, com determinação, não apenas deu prosseguimento, mas
conduziu a Santa Casa a um patamar de excelência alcançado por poucas
organizações do nosso meio, sempre tendo como norte a missão institucional.
Este foi o meu grande mérito: estar lá naqueles momentos ásperos, participar da
equipe que resgatou a Santa Casa, devolvendo-lhe a dimensão e a grandeza que
ela fabricou ao longo de sua história. Uma equipe de gente determinada e
visionária, que inclui companheiros como Olimpio Dalmagro, e tantos outros,
muitos deles aqui presentes.
Entusiasmo e, sobretudo, comprometimento
são as características comuns aos que constróem e mantêm instituições como a
Santa Casa de Porto Alegre. Eles são, acima de tudo, o contrário da
indiferença. Mais nociva do que a raiva e o ódio, a indiferença ante o
sofrimento alheio aniquila o que existe de humano em nós. Assim, a mais
importante lição do século passado, marcado por tantas guerras e aviltado pelos
campos de extermínios, é que não podemos cometer o crime da indiferença. Antes,
o nosso compromisso é com a prática do bem.
Os senhores, que a cada dia constróem a
nossa Santa Casa, me ensinaram a não ser indiferente, me ensinaram a
participar. Muito obrigado amigos e colegas, pelo privilégio de conviver com
vocês. Muito obrigado Santa Casa de Porto Alegre, pelo privilégio de poder
contribuir com minha pequena parcela para esse gigantesco e permanente esforço
de trazer saúde e qualidade de vida aos homens, mulheres e crianças desta
Cidade e deste Estado, uma tarefa bem-aventurada que se aproxima rapidamente
dos seus 200 anos. Muito obrigado, Câmara Municipal de Porto Alegre; muito
obrigado, Sr. Presidente, Ver. Elói Guimarães; muito obrigado, Vereadores,
Secretário José Fortunati, Ver. Dr. Humberto Goulart, pela honra deste título.
Muito obrigado, Porto Alegre, cidade que me recebeu e que me permitiu crescer
como homem e como médico. Quem te agradece, Cidade Sorriso, é o menino Jaques
Bacaltchuk, nascido em Quatro Irmãos, e de hoje para sempre, Cidadão de Porto
Alegre. Muito Obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE (Elói Guimarães): Cumpridas as praxes e
finalidades específicas da presente solenidade, nós queremos, Dr. Jaques
Bacaltchuk, em nome da Mesa, em especial do seu Presidente titular, Ver. João
Antônio Dib, fazer nossas as palavras proferidas pelas diferentes Bancadas, e
desejar a V. Exa. que continue sendo o que sempre foi. Esta Casa, ao lhe
conceder a presente homenagem, se sente homenageada, na medida em que
entendemos que esse instituto da titulação da cidadania, é, Dr. José Sperb
Sanseverino, uma espécie de sentença declaratória àqueles que, à Casa, apenas
corresponde certificar para a cidade de Porto Alegre o seu trabalho, a sua
dedicação, a sua luta, mormente tratando-se de um homem que salva vidas, um
profissional da Medicina.
Neste momento, convidamos todos os
presentes a ouvirmos o Hino Rio-Grandense.
(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)
Agradecemos a todos pela presença e damos
por encerrada a presente Sessão Solene.
(Encerra-se a Sessão às 20h24min.)
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